- O tropicalismo foi um movimento de liberdade criativa que surgiu no Brasil na década de 60
- O movimento extraiu das oposições do país a sua criação artística, despertando a ira dos puristas de direita e esquerda
- A ideia era criar uma imagem brasileira de vanguarda na arte contemporânea
- O tropicalismo trouxe uma nova atitude para a música brasileira, misturando elementos do pop rock e comportamento no palco
- A visão de Brasil do movimento era caótica, épica e exuberante, incluindo doses de crueldade e desigualdade
- O teatro também foi reinventado por criadores de vanguarda, como José Celso Martínez Corrêa e seu grupo Oficina, que estrearam a peça "O Rei da Vela" baseada no pensamento de Oswald de Andrade.

- O vídeo aborda o movimento tropicalista no Brasil, destacando sua origem e impacto na música e na cultura do país.
- O tropicalismo surgiu em 1967, com o famoso show de Caetano Veloso no Festival da TV Record.
- O movimento misturou influências da música brasileira tradicional com elementos da cultura pop e do rock internacional.
- O álbum manifesto do tropicalismo, intitulado Tropicália, foi lançado em 1968 e contou com a participação de vários artistas, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa, Rita Lee e Os Mutantes.
- O tropicalismo foi uma forma de resistência e crítica ao regime militar que governava o Brasil na época.
- O movimento enfrentou repressão e censura, culminando no Ato Institucional nº 5 (AI-5), que restringiu ainda mais as liberdades democráticas.
- Apesar dos aspectos festivos e alegres associados ao tropicalismo, a obra dos artistas envolvidos também abordava temas densos e ligados à violência e repressão.

- O tropicalismo não era apenas festivo, mas também trazia temas densos como prisão, exílio e violência.
- A prisão de Caetano Veloso e Gilberto Gil foi causada por um mal entendido sobre uma performance com uma bandeira.
- O tropicalismo tinha uma perspectiva de pisar no acelerador na construção do discurso musical.
- O cantor foi preso por dois meses, confinado por quatro meses e isolado por dois anos e meio.
- O tropicalismo buscava olhar para as contradições e problemas do Brasil sem cair na melancolia, mantendo uma espécie de saúde.
- O tropicalismo era marcado por um pessimismo alegre, olhando para as experiências brasileiras no escuro, mas mantendo uma alegria trágica.
- O álbum "Tropicália 2" foi lançado 25 anos após o primeiro álbum manifesto, continuando a saga do tropicalismo.
- A primeira faixa do álbum era uma canção de protesto que evocava o massacre do Carandiru.
- O clipe de "Haiti" retrata o país como épico, marcado pela brutalidade, mas ainda exuberante e vital.

- O tropicalismo foi um movimento de liberdade criativa que surgiu no Brasil na década de 60, buscando criar uma imagem brasileira de vanguarda na arte contemporânea.
- O movimento trouxe uma nova atitude para a música brasileira, misturando elementos do pop rock e comportamento no palco.
- O teatro também foi reinventado por criadores de vanguarda, como José Celso Martínez Corrêa e seu grupo Oficina.
- O tropicalismo surgiu em 1967, com o show de Caetano Veloso no Festival da TV Record, e enfrentou repressão e censura do regime militar.
- Apesar dos aspectos festivos, a obra dos artistas envolvidos também abordava temas densos e ligados à violência e repressão.
- O tropicalismo buscava olhar para as contradições e problemas do Brasil sem cair na melancolia, mantendo uma espécie de saúde.
- O álbum "Tropicália 2" foi lançado 25 anos após o primeiro álbum manifesto, continuando a saga do tropicalismo.

O especial "Tropicália 50 anos", exibido pela TV Brasil, inclui depoimentos e performances musicais. A produção utiliza imagens de arquivo da TVE do Rio de Janeiro, trechos de filmes e entrevistas recentes com jornalistas, críticos e pesquisadores, como Tarik de Souza, Fred Coelho e Paulo da Costa e Silva.

O documentário também resgata do acervo da emissora sequências históricas como Caetano Veloso cantando "Alegria, Alegria", Gilberto Gil interpretando "Domingo no Parque" e a banda Os Mutantes entoando "Panis et Circenses".

Saiba mais:
http://tvbrasil.ebc.com.br/especiais-tv-brasil/2017/11/tropicalia-50-anos

Sabe, Caetano, me parece que enquanto parcelas significativas da juventude brasileira curtiam coisas muito importantes passavam despercebidas a essas mesmas parcelas.

Eu preciso que você me dissesse, porque se as pessoas estavam curtindo, alguma coisa ali estava se dando de importante, quer dizer, Alguém estava curtindo alguma coisa, quer dizer...

Hoje eu vou fugir de casa Vou levar a mala cheia de

deixar alguma coisa velha Esparramada toda pelo chão

Na segunda metade da década de 60, o tropicalismo eclodiu no Brasil como grito de liberdade criativa, uma explosão de sonhos, cores e novas ideias em país que mergulhava nas sombras do autoritarismo.

O Brasil moderno e o arcaico, a bossa e a palhosa, a vocação de Onizika para a festa e o karma de subdesenvolvimento atroz.

O tropicalismo extraiu das oposições que marcam o país o sumo da sua criação artística.

Produziu uma síntese estética, daquilo que Caetano Veloso chamou de atrás de comédia Brasil.

E assim despertou a ira dos puristas na direita e na esquerda.

A Tropicália, pra mim, não era só título de uma obra, era como se fosse assim uma posição diante das coisas e uma posição estética.

Quando ele propõe a obra Tropicália, o pensamento do Oiticica nesse momento era disputar no campo da história da arte ou no campo da arte contemporânea daquele tempo, no mundo, uma imagem brasileira de vanguarda.

Como o Brasil pode, assim como os Estados Unidos com a pop art, assim como a França ou a Argentina com movimentos de novas figurações ligadas à cultura pop de massa, como o Brasil podia se inserir naquilo?

É escurinha, tu tem que ser minha De qualquer maneira Te dou meu boteco, te dou meu barrajo Te tenho no morro de banqueia Só há

a possibilidade de ir pra frente, em outras palavras, de experimentar, porque não há razão para voltar atrás no Brasil.

Penetrava era uma obra do Leticica que você entrava, como se fossem cabines com labirintos, pequenos labirintos apertados, o que remeteria a uma própria arquitetura de favelas com uma mangueira, onde ele frequentou bastante, e outras.

E, ao mesmo tempo, no principal penetrável da Tropicalia, que se chamava Imagético, você tinha no final uma televisão.

A ideia do Hélio era que a imagem da televisão ligada sugasse o seu sentido direto pra dentro daquela tela que você olha e que ao mesmo tempo está olhando você.

O Hélio e a Tropicália viraram a cabeça do brasileiro e botaram a cabeça em sintonia com todas as cabeças das que fazem o carnaval, das que fazem a cultura orgiástica brasileira.

Não com o teatro oprimido, Não com a lamúria, não com a lamentação, com o sofrimento do povo, não.

Essa obra tropicália da Oliveira de Sica, ela contagia uma série de pessoas, né, ideias aí.

É a história famosa, o Luiz Carlos Barreto, o produtor, né, daquele período.

O Luiz Carlos Barreto, ele é dos primeiros a começar a pensar nome tropical fora do contexto da obra da Oiticica.

Depois, ele sugere, numa audição em São Paulo, pro Caetano Veloso o nome da música a partir da obra de artista, que, como Caetano Veloso e qualquer outro, talvez respondesse, eu não vou botar esse nome porque eu não conheço nenhum artista, não vi a obra, não vou fazer isso.

Só que aí, pelo que diz a biografia própria, a autobiografia do Caetano, o empresário dele na época, Guilherme Araújo, ele gosta do nome, sente força no nome e usa o nome

O mundo inventa é bem moderno Noites de cidade do moderno, do eterno Que tudo mais vai pro inferno, meu bem Que tudo mais vai pro inferno, meu bem Viva a banda, ta-ta, cafeteria-ta-ta-ta-ta Viva a banda, ta-ta, cafeteria-ta-ta-ta-ta Viva a banda, ta-ta, cafeteria-ta-ta-ta-ta La-ta-ta, cabelerança, la-ta-ta-ta Era país subdesenvolvido Subdesenvolvido, subdesenvolvido Subdesenvolvido, subdesenvolvido Subdesenvolvido, subdesenvolvido Subdesenvolvido, subdesenvolvido

A própria Bossa Nova teve uma dissensão interna, quer dizer, parte da Bossa Nova foi para a esquerda, começou a fazer canções engajadas, como Terra de Ninguém, do Marcos e Paulo Sérgio Valle, uma série de músicas assim de protesto mesmo dentro da Bossa Nova.

E a outra parte da Bossa Nova passou até a contestar essas músicas de protesto.

E aí, quando chega o tropicalismo, ele chega num momento em que a bossa nova tinha estabelecido padrão musical pra música brasileira.

Diante do desafinado, o mundo curva se desolva, tudo até então louvado foi jogado numa cova, o sol chocou 200 ovas e nasceu a bossa nova.

Aí, o sol chocou 200 ovas E nasceu a bossa nova

Vamos lembrar sempre que Caetano Veloso, Gilberto Gil, Galcois são discípulos diretos do João Gilberto.

Não apenas elogiam o João Gilberto, gostam do João Gilberto, mas não, eles foram moldados a partir do João Gilberto.

Todos eles falam que o João Gilberto foi essencial na carreira deles.

Mas Eles explodem com aquele modelo criado pelo João Gilberto.

Colocam a música brega, as guitarras do pop rock, que não existiam dentro da bossa nova de jeito nenhum.

A Bossa Nova propõe modelo possível de Brasil, uma imagem do Brasil que não é mais possível depois do golpe de 64 e sobretudo nas agitações de uma cultura bastante globalizada, a cultura jovem do fim dos anos 60.

O tropicalismo sente que a moldura bossa-novística, apesar de ser muito bem feita, sofisticada, internacionalista, num certo sentido, ela não comporta mais uma imagem de Brasil que cada vez mais parece Brasil meio pouco Glauber Rocha, uma terra em transe.

A visão de Brasil que se depreende dos filmes do Glauber é uma visão caótica, mas é uma visão épica.

É uma visão pouco que o Caetano e o Gil colocam no Tropicalia 2, na canção Haiti.

No fim das contas, é a grandeza épica de povo em formação.

E isso inclui doses de crueldade, desigualdade, mas de exuberância, de alegria, de força, de energia.

Eu vou me interromper com o seu clube de classe, mas a direção do cinema político...

Para lá é o cinema desconhecido, o cinema da aventura.

É cinema perigoso, divino e maravilhoso.

Assim como o cinema, a música e as artes plásticas, o teatro também estava sendo reinventado por criadores de vanguarda.

Em 1967, o diretor José Celso Martínez Corrêa e seu grupo Oficina estreiam a peça O Rei da Vela, publicada por Oswald de Andrade.

Em 1933, o texto jamais havia sido encenado.

Chegou a ser considerado por Sábato Magaldi, uma das vozes mais influentes da crítica teatral na época, uma obra impossível de ser montada.

A peça resgataria a força do pensamento de Oswald e dos modernistas, logo incorporado pelo tropicalismo.

Filosofia de classe rica desesperada, ó!

Eu não sou mais modernista, eu sou trompão.

E toda a minha geração, Glauber, Caetano, Hélio, Zica, Gil, Zé Vicente, esse menino maravilhoso.

Primeiro março, foi o motobo que foi feito pela Pagu.

Nós todos retornamos aos índios, aos africanos e ganhamos essa força.

21 de outubro de 1967, o jovem Caetano Veloso entrava no palco do Festival da TV Record para cantar Alegria, Alegria.

As vaias de parte do público foram o prólogo do concerto que entraria para a história como marco inicial do tropicalismo.

A letra da canção misturava bordão do cantor Wilson Simonal com uma frase do filósofo Jean-Paul Sartre.

Aparentemente aleatórias, as imagens se sobrepunham para formar painel, retrato daquela época.

Caminhando contra o vento, sem lenço, sem tormento, no sol de quase dezembro, eu vou.

O sol se reparte em crimes, espaçonaves, guerrilhas, em partidárias políticas,

Após o número, a platéia ainda ressoava intensamente.

Mas agora, os aplausos efusivos é que sobressaíam.

Alegria, Alegria nasceu de uma frase que eu ouvi de rapaz com quem eu só estive nesse dia, com quem eu compus uma música.

A gente estava andando em Copacabana e ele falou Eu estou me sentindo nu, eu estou sem lenço e sem documento.

Eu falei pra ele, isso é bonito, eu vou fazer uma música com isso.

E o que ele falou de estar andando por ali, eu associei logo às imagens que a gente vai vendo pela rua em Copacabana quando anda, de revistas e anúncios luminosos e Coca-Cola e todas essas coisas da atualidade.

Então é como se ela fosse a contracapa da banda do Chico, né?

Só que ao invés de ter aquele lirismo bucólico do jovem Chico Buarque, Caetano tá fazendo uma canção, me parece muito mais parecida com Bob Dylan, com uma coisa de ir para o mundo, né?

O Alegria, Alegria é com aquele grupo argentino de rock, que já é uma coisa totalmente violentadora.

E o Domingo no Parque com os Mutantes, que era uma coisa totalmente nova, né?

Era rock brasileiro completamente diferente do que vinha sendo apresentado pela Jovem Guarda.

O rei da brincadeira, Rejoão O rei da confusão, Rejoão trabalhava na feira, Rejoão Outro na construção, Rejoão Como

se ele estivesse filmando o que aconteceu no parque, olha o sorvete, olha a faca, parece que ele está dando uns closes naquilo, parece plano sequência que a coisa está acontecendo ali.

Então isso vem também com uma herança do concretismo, do jogo de palavras, do uso das palavras.

como sempre, no fim da semana Guardou a barraca e subiu Foi fazer no domingo passeio no parque Lá perto da boca do rio Foi no parque que ele avistou Juliana Rodrigo

Logo depois que o movimento foi denominado tropicalia, ou tropicalismo, Depois de alguns encontros com Glauber Rocha e Luiz Carlos Barreto, o produtor de cinema, eu estive em casa de Chacrinha, que não conhecia pessoalmente Caetano Veloso, e resolvemos que eles participariam de alguns programas de Chacrinha.

A Tropicália só passou na minha cabeça quando eu fui procurado pelo Guilherme Araújo.

Ele diz, Chacrinha, vamos lançar no seu programa o movimento Tropicalia.

O Guilherme Araújo, naturalmente, muito inteligentemente, ele me procurou porque ele viu que o meu programa se adaptava ao que ele queria.

Ele queria mudar a fisonomia, a cara, o jeito do Caetano, do Gilberto Gil e da Gal Costa.

jeito que ele encontrou foi o meu programa, porque já era programa tipicamente tropical.

Lançado em 1968, Tropicália, ou Panes et Circenses, é o álbum manifesto dos tropicalistas.

A obra coletiva reuniu Caetano, Gil, Tom Zé, Gal, Rita Lee e Os Mutantes, além da convidada de honra, Nara Leão.

As canções contaram com versos dos poetas Torquato Neto e Capinam.

O pintor Rubens Gershman fez o grafismo da capa e o maestro Rogério Duprá escreveu os memoráveis arranjos.

Eu sou o monstro do luar Soltei os segredos e os leões busquem mais Mas as pessoas na sala de jantar São ocupadas em nascer e em morrer

A moçada estava precisando mudar alguma coisa, estava carente de mudanças.

E uma das brechas do sistema era isso aí que chama de arte música.

A repressão se dava mais violentamente, é claro, ao nível da palavra.

Então, gente como Geraldo Vandré, gente como próprio Chico Buarque e tal, tinha muito mais olheiro em cima deles do que...

Então, talvez a Tropicada tenha sido isso, meio de conseguir dar a volta por cima e fazer a revolução mais num outro nível, ao nível do comportamento, enfim, do que ao nível da palavra.

Esse encontro de maestro de vanguarda que trabalhava dentro da indústria, de jovens que tinham repertório musical tanto contemporâneo quanto de tradição e que achavam que a tradição tinha diálogo com o repertório contemporâneo, é que faz essa canção e essas letras, digamos assim, do tropicalismo funcionarem de jeito inédito.

É onde o Doutor Quarto Neto pode fazer uma música que ele fala de Sinatra, de Formiplac, de Luiz Gonzaga, de Nordeste, de fome, de indústria, que faz o Tom Zé poder fazer uma música no parque industrial, onde você fala disso, das coisas, das transformações, que, na verdade, essa foi a visada crítica inteligente dos tropicalistas.

Perceber que a modernidade brasileira não anulava, como até hoje, as suas estruturas mais arcaicas.

E eles eram parte de estruturas arcaicas porque cresceram no interior do Nordeste.

Então, pra nós, uma guitarra, uma luz elétrica, microfone e computador eram coisas muito simpáticas, eram novidades muito curiosas.

Então, toda essa disponibilidade para com o mundo, toda essa Oswaldiandradidade para com o mundo, toda essa vontade de conhecer o mundo, se chamou tropicalismo, a imprensa chamou tropicalismo.

No festival de 1968, as tensões entre os tropicalistas e seus críticos atingiriam o ápice.

Protestos, estudantes mortos, artistas atacados, presos e calados pela censura.

O AI-5, ato final contra a democracia, dissolvia o Congresso e sufocava a oposição ao regime, logo entraria

Atenção, para o estrofe, para o refrão, para o palavrão, para a palavra de ordem.

é perigoso Tudo é divino, maravilhoso Atenção para o refrão É preciso estar atento e forte Não temos tempo de temer a morte É preciso estar atento e forte Não temos tempo de temer a morte É preciso estar atento e forte Não temos tempo de temer a morte

O Rogério Duarte foi preso em abril de 68, na missa de sétimo dia do Edson Luiz, e foi...

Torquato Neto, em 71, por conta de uma série de situações, ele se interna em situações...

Em hospitais, em hospital de engenho de dentro, por exemplo.

Ou seja, às vezes também, aproveitando uma efeméride como os 50 anos do tropicalismo, a gente tem sempre que lembrar que a relação que se fez cultural com o tropicalismo como algo festivo, alegre, carnavalizado, apaga pouco o lado também denso que a obra da Letícia, por exemplo, trazia, que a prisão e o exílio e tortura dessas pessoas já acarretou, que uma série de temas ligados à violência estão presentes nas músicas do tropicalismo.

O estopim do episódio que leva Caetano e Gil ao exílio é dado por uma performance que eles fazem numa boate, colocando uma...

Banner do Helio Otsika com uma louvação ao cara de cavalo e o Caetano dando cambalhota.

E aí tem esse embrole, essa situação complicada, que é a ideia de que militar viu a bandeira no show, pediu pra eles tirarem a bandeira.

O Caetano Veloso se recusou, em público, em cena, a tirar a bandeira.

Aí essa história rola para radialista em São Paulo que acaba dizendo que, na verdade, o Caetano e o Gil estavam pisando e cuspindo na bandeira do Brasil no show.

Então, isso cria fio, telefone sem fio, totalmente escalafobético, digamos assim, que acaba resultando numa ideia de argumento de que eles eram pessoas que no show estavam cuspindo ou pisando na bandeira brasileira, que eles xingavam os militares.

Então criou-se uma ideia falsa, obviamente, do show, e que foi a alegação dos militares quando os prenderam foi essa, de que eles estavam usando bandeiras, etc.

Mas, sem dúvida nenhuma, a bandeira do Alioticica é sinal não só dessa aliança, digamos assim, entre esses pensadores intelectuais daquela época, como da própria perspectiva dos compositores tropicalistas, dos músicos, de que era o momento, digamos assim, de pisar no acelerador na forma como eles estavam construindo o discurso musical deles.

Você fez programa na TV Tupi, o Divino Maravilhoso, cantou uma música chamada Boas Festas, que era uma antecipação do luto pós AI-5.

Esse número era mais ou menos uma homenagem à figura do Assis Valente, que foi suicida, cantando na semana do Natal, ou dias antes do Natal, ou entre o Natal e o Ano Novo, a sua canção de natal, Boas Festas, em que ele dizia que pensava que todo mundo fosse filho de papai noel, né?

Então, querendo homenageá-lo como uma personalidade, assim, também violenta internamente, que chegou ao suicídio, eu cantei essa canção, que é uma canção de Natal, com revólver apontado para a minha própria cabeça.

E isso, de certa forma, metaforizava a situação de violência que o Brasil estava vivendo.

E, infelizmente, depois eu até não gostava nem de me lembrar muito disso, porque eu sofri muito depois e eu achava que...

Eu sou pouco supersticioso e talvez ter me tornado mais por causa disso, eu achava que aquilo tinha puxado barras pro meu lado.

Porque logo depois você foi preso, inclusive.

A gente ficou dois meses presos, quatro meses confinados e dois anos e meio isolado.

A tentativa do tropicalismo é olhar para essas contradições e esses problemas sem cair numa melancolia, sem cair numa coisa reativa, mantendo, o que o Caetano vai dizer, uma espécie de saúde.

E é justamente Isso que ele encontra no Jorge Ben.

E é uma coisa que, na verdade, ele identifica como sendo traço do tropicalismo.

Ele vai fazer uma comparação com a Bossa Nova e ele fala assim, a Bossa Nova era tão ingênua que parecia que tinha otimismo trágico.

É como se os problemas e defeitos do Brasil tivessem temporariamente resolvidos por aquela música do barquinho, no azul, macio do mar, etc.

O tropicalismo é marcado por pessimismo alegre.

Quer dizer, Eles estavam dispostos a olhar dentro do escuro da experiência brasileira, mas mantendo uma espécie de alegria trágica em relação a isso.

Se a gente não tivesse feito nada de realmente bom, a gente tinha feito uma coisa ótima, que era pôr a música brasileira em xeque.

A música brasileira como vinha sendo feita até dois anos atrás, nós colocamos esse em xeque.

Passados 25 anos do primeiro álbum Manifesto, Caetano e Gil lançam Tropicália 2.

Não deixa de soar irônico que a primeira faixa do álbum fosse rap, uma canção de protesto que evocava o massacre do Carandiru.

No clipe de Haiti, há uma cena em que os tropicalistas olham para o fundo de poço e vêem, refletido em suas águas, o mesmo país épico, marcado pela brutalidade, mas ainda exuberante e vital.

Dando porrada na nuca de malandros peitos De ladrões mulatos E outros quase brancos tratados como pretos Só pra mostrar aos outros quase pretos Que são quase todos pretos E aos quase brancos pobres como pretos Como é que pretos, pobres e pulados E quase-brancos, quase-pretos, tão pobres são tratados E não importa se olhos do mundo inteiro Posso estar por momento voltados para o largo Onde os escravos eram castigados E hoje batuque, batuque com a pureza de meninos uniformes

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Especial Tropicália 50 anos