- O autor reflete sobre a quantidade de tempo que passamos nas redes sociais e como isso afeta nossas vidas.
- Ele destaca que, nas redes sociais, podemos consumir uma grande quantidade de conteúdo em apenas um minuto.
- No entanto, o autor ressalta que passar tanto tempo nas redes sociais pode ter efeitos negativos, como ansiedade e comparação.
- O autor argumenta que o excesso de tempo gasto nas redes sociais não é apenas uma falta de controle individual, mas sim um fenômeno coletivo e fabricado pelas plataformas.
- Ele menciona que as plataformas de redes sociais lucram com a nossa atenção e tempo, através de anúncios.
- O autor destaca a importância de aproveitar o tempo gasto nas redes sociais de forma produtiva e crítica.
- Ele questiona se realmente lembramos dos anúncios que vemos nas redes sociais e como isso afeta os criadores de conteúdo.
- O autor também reflete sobre o impacto da quantidade de informação circulando nas redes sociais sem senso crítico.
- Ele levanta a questão do impacto individual de passar tempo demais nas redes sociais antes de dormir.

- É importante falar sobre a qualidade do tempo gasto no celular, não apenas a quantidade de tempo
- Três palavras chave para repensar nossa relação com as redes sociais são: intenção, atenção e ação
- Devemos questionar o motivo de estarmos usando o celular e como chegamos a determinado conteúdo
- Os algoritmos das redes sociais escolhem o que aparece para nós com base em nosso comportamento
- Devemos valorizar nossa atenção e pensar no que vale a pena dar atenção e no que não vale
- Precisamos agir de forma intencional e atenta para garantir que nosso tempo nas redes sociais tenha qualidade
- É importante estar presente no mundo real e também quando estamos usando o celular
- Devemos aproveitar o tempo que passamos no celular de forma produtiva e não desperdiçá-lo
- Nossa atenção determina nossa realidade e afeta nossos pensamentos e sentimentos
- Devemos transformar o tempo gasto no celular em tempo valioso para nós e para os outros.

Everyone spends more time on the internet than they would like and, as much as we try to disconnect, a life away from screens is impossible.

We will spend the next few years trying to balance time in the virtual world with presence in the real world. 

In this process, it is also necessary to be present when we are in front of the screens, attentive not only to how much time has passed - but how we spend that time. Beatriz Guarezi is a brand manager, content creator, teacher and speaker. Inhabits the universe of brands since 2013, through strategy, research, content and lectures. In 2018, she created the weekly Bits to Brands newsletter, where she creates content on branding, technology and behavior, maps trends and strengthens a community of more than 20,000 professionals. This talk was given at a TEDx event using the TED conference format but independently organized by a local community. Learn more at https://www.ted.com/tedx

Vamos pensar em minuto conversando com alguém que você gosta muito.

A gente não consegue nem começar uma fofoca.

Vamos pensar em minuto de deslocamento, seja qual for o meio de transporte.

Eu vou precisar de muito mais que minuto para fazer aqui o ponto que eu quero fazer para vocês hoje.

Então, a gente começa a pensar que, na vida real, nesse espaço que a gente está dividindo agora, muito pouco cabe em minuto.

Mas, nas redes sociais, é pouco diferente.

Se você pensar em minuto no Twitter, você consegue ler uns 30 tweets diferentes.

Em minuto no Instagram, você consegue passar por uns 50 stories diferentes.

Em minuto no TikTok, você pode assistir qualquer coisa de 5 a 20 vídeos diferentes.

Eu micronometrei nessas redes sociais, é por isso que eu estou trazendo esse número para vocês.

E antes fosse só minuto, porque quando a gente está com o celular na mão, minuto viram dez, dez minutos viram vinte e quando a gente viu, meia hora se passou.

A gente está aqui para falar sobre hiatos e essa introdução me faz pensar, hiato para quem?

Se a gente, com o celular na mão, elimina o tempo a hora que a gente quiser.

Não tem hiato para quem não quiser, você pega o celular e quando você vê, meia hora já passou.

E nessa meia hora que passou, todo tipo de conteúdo passou pela gente.

Conteúdo que a gente gosta, conteúdo que interessa, conteúdo que ensina, que inspira, que engaja, conteúdo que, às vezes, você só dê uma risadinha, mas está valendo.

Mas a gente também passa por muito conteúdo que causa sentimentos muito negativos.

Você pensa em ansiedade, em inveja, comparação, em angústia, conteúdo que desperta raiva.

Tem muita gente passando raiva com as redes sociais nos últimos tempos.

Quando a gente pensa em tudo isso, e eu imagino que vocês estejam dividindo agora essa reflexão comigo, A vontade é...

Cara, eu acho que eu preciso largar o celular pouco.

Acho que eu preciso passar menos tempo do que eu passo na vida com o celular na mão.

Eu não sei vocês, mas eu escovo os dentes com o celular na mão.

É muito difícil você largar o celular em qualquer momento que você está fazendo nada.

Cara, eu queria passar menos tempo com o celular na mão.

Só que isso, vocês já repararam que isso não é nada fácil?

Não é fácil simplesmente desconectar, largar as redes sociais.

E aí você fica se sentindo mal, duplamente.

Primeiro, porque você está passando muito tempo ali.

Segundo, porque você não tem a menor autodisciplina, autocontrole, você é dominado por aquele objeto e você não consegue sair dali pelo tempo que você gostaria.

O primeiro ponto que eu quero trazer aqui é que esse comportamento, esse excesso de tempo que a gente passa com o celular na mão, não pode ser visto como uma falta de controle individual, minha ou sua.

O excesso de tempo que a gente passa nas redes sociais precisa ser entendido como fenômeno que é coletivo e fabricado.

Coletivo porque todos nós aqui compartilhamos dele, de certa forma.

Porque todo mundo está nas redes sociais.

Vocês já tiveram com alguém a conversa de, ah, eu conheci uma pessoa, aí outra pessoa diz, me mostra uma foto.

E aí você diz, não, essa pessoa não tem redes sociais.

Nossa, se essa pessoa não tem redes sociais, ela não existe.

Como se espera que a gente passe tempo longe do celular se estar nas redes sociais é existir no mundo em que a gente vive hoje?

Se os seus avós estão no Facebook, os adolescentes estão no Snapchat, a gente não está lá nem cá, está no Instagram reclamando bastante, mas está todo mundo na internet conectado de alguma forma.

O que acontece no Twitter vira notícia no Jornal Nacional.

O que viraliza no TikTok está na vitrine das lojas do shopping.

Então, a gente vive hoje em mundo em que é praticamente impossível você existir sem estar nas redes sociais, sem olhar para o seu celular de alguma forma.

E o excesso de tempo que a gente passa ali é também fabricado por essas plataformas.

Porque quanto mais a gente arrasta para cima, mais anúncios passam pela gente.

Nessa lógica em que você não paga nada para usar as redes sociais, mas alguém paga essa conta, e paga-se muito bem.

A Meta, por exemplo, que é a dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp, faturou em 2021 mais de 60 bilhões de dólares em anúncios.

O que ela está vendendo para os anunciantes é a nossa atenção, é o nosso tempo, é o nosso arrastar para cima.

Em 2021 também, os brasileiros passaram, em média, 5 horas e meia no celular por dia.

Eu não sei se 5 horas e meia para vocês é muito ou é pouco.

Não sei se vocês já pararam para olhar no...

Quanto tempo você passa em cada aplicativo, todos os dias.

Mas, para a gente ter entendimento coletivo aqui, se você é uma pessoa que dorme oito horas por noite, cinco horas e meia por dia com o celular na mão é terço do tempo que você passa acordado.

Ou seja, você passa pelo menos terço da sua vida com o celular na mão.

A cada dez desses minutos, sete são nas redes sociais.

Por essas e outras, que a gente tem observado movimento coletivo também de desconectar.

Cara, preciso passar menos tempo no celular.

Eu Só estou com o celular até as 10 da noite.

E tem gente que vai até o limite de passar dias seguidos fora das redes sociais.

Gosto muito do conceito de detox digital, já tentei, não consegui.

E a gente fica pensando, né, cara, como seria bom se eu conseguisse...

Como seria bom se a gente conseguisse hábitos diferentes, se a gente conseguisse controlar, de certa forma, o tempo que a gente passa nas telas?

Não me levem a mal, essa conversa é superimportante.

Inclusive, uma das grandes questões com que a gente vai lidar nos próximos anos é o equilíbrio entre a presença no mundo real e o tempo no mundo virtual.

Mas a questão aqui é, por melhor que você seja em detox digital, por mais autocontrole que você tenha, por mais que você seja ser evoluído na sociedade, nossa, eu não preciso estar no Instagram, não me faz a menor falta.

Uma hora ou outra, a gente volta, a gente dá uma olhadinha, a gente baixa de novo o aplicativo, a gente posta uma foto, a gente comenta na foto do amigo, a gente vê aquele TikTok que está todo mundo falando.

A gente nunca vai conseguir desconectar 100%.

Desculpem ser a mensageira do apocalipse, agora a gente vai virar, essa conversa vai ficar mais positiva, prometo.

É por isso que acredito, e é o que quero trazer para a gente aqui hoje, que a gente precisa tirar pouco o foco dessa conversa de passar menos tempo nas redes sociais e falar pouco sobre o tempo que a gente está passando ali de fato.

Porque esse tempo pode ser bem ou mal aproveitado.

Para as plataformas, isso não faz a menor diferença.

Quanto mais você está ali arrastando para cima, Mais anúncios você está vendo e está tudo bem.

Quando a gente pensa, por exemplo, nas marcas que gastam centenas de milhares de reais em anúncios, nessas plataformas, todo mês, todo ano, E aí elas recebem de volta relatórios de métricas, visualizações, conversões, e seu anúncio foi sucesso.

Será que as pessoas lembram mesmo de ter visto aquele anúncio passar?

Você lembra o último anúncio que passou por você?

Para os criadores de conteúdo, cara, eu, Cris Dias, vários de nós que estamos aqui hoje, já são mais de 500 mil pessoas no Brasil que se identificam como criadoras de conteúdo, pessoas que buscam rentabilizar a sua presença nas redes sociais.

Será que é justo com essas pessoas, com o tempo delas, com o esforço delas, com o talento delas, que tanto do que elas criam passa despercebido pelas outras pessoas?

E para a gente enquanto sociedade, enquanto coletivo aqui nessa sala, qual é o impacto de tanta informação circulando por aí ao mesmo tempo, só que no modo automático, sem nenhum senso crítico envolvido?

Eu acho que a gente tem vivido bastante desse impacto, inclusive, nos últimos anos.

Você dorme melhor ou pior depois de dez minutinhos, que viram quinze, que viram vinte, que viram meia hora arrastando para cima antes de dormir.

Você tem mais ou menos concentração nas atividades do dia a dia, depois de passar tanto tempo no celular o tempo inteiro?

O conteúdo que chega até você por ali te causa tranquilidade ou te causa ansiedade?

E é porque eu imagino quais são essas respostas, porque eu respondo elas para mim mesma também frequentemente, que eu reitero, a gente precisa falar da qualidade do tempo que a gente passa quando está com o celular na mão e não somente da quantidade de tempo que deveria deixar de passar.

Essa é uma conversa sobre sair do modo automático, parar de arrastar para cima, enfim, sem prestar atenção no que a gente está vendo, e repensar a nossa relação com as redes sociais e com o conteúdo que chega até a gente por ali.

Se esse é fenômeno coletivo e fabricado, talvez a solução seja pouco mais individual do que a gente gostaria.

Porque tempo de qualidade para mim é muito diferente do que é tempo de qualidade para você.

Mas tem três palavras que definem esse processo que eu acho que podem ajudar todo mundo de alguma forma.

Intenção é tão simples quanto o que eu estou indo fazer ali?

Por que eu estou abrindo esse aplicativo?

E aí vocês vão me dizer, Bia, mas é óbvio, eu abro o aplicativo, eu sei o que estou indo fazer.

Quantas vezes você pegou o celular para fazer pix ou olhar a previsão do tempo e, quando acordou, estava há 20 minutos no TikTok?

A gente vive várias situações de descontrole.

O segredo é pararmos a qualquer desses momentos.

20 minutos, meia hora depois, olhe para o que você está vendo e pergunte como é que vim parar aqui.

Às vezes, você vai saber, às vezes, você não vai saber.

Porque, se a gente não se questiona nesse sentido, a gente aceita que opera no descontrole, que tem uma força ali que domina a nossa vontade e o nosso tempo.

Aí vocês vão me dizer, tem uma força que domina a minha vontade e o meu tempo?

Sim, a gente está frequentando redes sociais cada vez mais controladas por algoritmos, que são essas fórmulas que escolhem o que vai aparecer para você a cada momento.

Só que elas escolhem com base no seu comportamento interior.

Então, a gente não está 100% fora do controle dessa situação.

E é possível e cada vez mais importante que a gente perceba os momentos onde a gente exerce, sim, pouco de controle.

O que você segue ou deixa de seguir, aquilo que você interage ou deixa passar reto, aquilo que você joga na palavra, na caixinha de busca, tudo isso ajuda a determinar o conteúdo que vai chegar para você nos dias seguintes e a qualidade do que você vai estar recebendo ali.

Atenção é a coisa mais valiosa que a gente tem.

A nossa atenção é disputada o tempo inteiro, por marcas, por influenciadores, por plataformas.

Neste momento, está acontecendo uma batalha dificílima pela atenção de cada de vocês, que sou eu versus os celulares.

Esse era o momento que eu ia apontar para alguém com o celular na mão.

Não tem ninguém com o celular na mão, eu estou emocionada.

A nossa atenção é a coisa mais valiosa que a gente tem, mas ela precisa ter valor para a gente primeiro.

Porque, senão, a gente está só oferecendo ela para os outros e tem gente ganhando dinheiro às nossas custas.

A gente precisa tirar pouco dessa troca também.

E parte disso é saber o que vale a sua atenção.

Talvez essa resposta não seja fácil e nem imediata, mas para para pensar pouco no que vale a sua atenção e também no que não vale a sua atenção.

E para para pensar pouco na quantidade de tempo que você passa olhando para coisas que não valem a sua atenção.

A gente precisa saber o que vale a nossa atenção e precisa agir nesse sentido.

Infelizmente, não vai dar para a gente ficar sentado esperando que as plataformas acordem dia e digam, ah, eu vou parar de ganhar dinheiro com a atenção dessa pessoa.

Eu só vou mostrar para ela agora conteúdo relevante, conteúdo que faz bem, conteúdo que ela vai querer ver.

A gente precisa ser cada vez mais intencional e atento para garantir que o tempo que a gente está passando ali tem qualidade, tem valor para a gente E não só para as plataformas.

Eu não sei quanto tempo você passa nas redes sociais, eu não estou aqui para te julgar por isso.

Está tudo bem você querer se manter informado.

Está tudo bem você se sentir bem quando você posta uma foto e uma pessoa dá like ou quando você esbarra num vídeo da menina que fala palavras difíceis e você fica feliz porque ela é fofa.

A questão aqui é que a gente ficar preso, distraído, passivo, num fluxo de informações infinito não é a mesma coisa que a gente estar bem informado.

E a gente estar constantemente buscando essa felicidade artificial gerada pelas redes sociais, não é aproveitar a vida.

Então, se eu falei em plataformas, em atenção, em intenção, eu falei várias palavras aqui, mas falta uma para fechar essa conversa.

Quanto mais presente a gente estiver no mundo real, melhor.

Mas a gente precisa estar presente também quando está com o celular na mão.

Do contrário, a gente está aceitando que todo o tempo que a gente passa com o celular na mão é tempo desperdiçado.

E eu não sei vocês, mas eu me recuso a perder todo esse tempo de vida.

A nossa atenção, Como eu já falei, é uma das coisas mais valiosas que a gente tem.

Aquilo em que você coloca atenção determina a realidade à sua volta, define aquilo que você pensa, muda aquilo que você sente.

Agora, imagina se cada de nós pegar todo esse tempo que passa arrastando pra cima e fizer desse tempo tempo que vale a sua atenção e a dos outros.

É isso que eu quero pra mim e para vocês.


Speaker 0: ♪ Quanto cabe em minuto? Vamos pensar em minuto conversando com alguém que você gosta muito. Não rende nada, né? A gente não consegue nem começar uma fofoca. Vamos pensar em minuto de deslocamento, seja qual for o meio de transporte.

Em minuto não se chega a lugar nenhum. Eu vou precisar de muito mais que minuto para fazer aqui o ponto que eu quero fazer para vocês hoje. Então, a gente começa a pensar que, na vida real, nesse espaço que a gente está dividindo agora, muito pouco cabe em minuto. Mas, nas redes sociais, é pouco diferente. Se você pensar em minuto no Twitter, você consegue ler uns 30 tweets diferentes.

Em minuto no Instagram, você consegue passar por uns 50 stories diferentes. Em minuto no TikTok, você pode assistir qualquer coisa de 5 a 20 vídeos diferentes. Eu micronometrei nessas redes sociais, é por isso que eu estou trazendo esse número para vocês. E antes fosse só minuto, porque quando a gente está com o celular na mão, minuto viram dez, dez minutos viram vinte e quando a gente viu, meia hora se passou. A gente está aqui para falar sobre hiatos e essa introdução me faz pensar, hiato para quem?

Se a gente, com o celular na mão, elimina o tempo a hora que a gente quiser. Não tem hiato para quem não quiser, você pega o celular e quando você vê, meia hora já passou. E nessa meia hora que passou, todo tipo de conteúdo passou pela gente. Conteúdo que a gente gosta, conteúdo que interessa, conteúdo que ensina, que inspira, que engaja, conteúdo que, às vezes, você só dê uma risadinha, mas está valendo. Mas a gente também passa por muito conteúdo que causa sentimentos muito negativos.

Você pensa em ansiedade, em inveja, comparação, em angústia, conteúdo que desperta raiva. Tem muita gente passando raiva com as redes sociais nos últimos tempos. Quando a gente pensa em tudo isso, e eu imagino que vocês estejam dividindo agora essa reflexão comigo, A vontade é... Cara, eu acho que eu preciso largar o celular pouco. Acho que eu preciso passar menos tempo do que eu passo na vida com o celular na mão.

Eu não sei vocês, mas eu escovo os dentes com o celular na mão. É muito difícil você largar o celular em qualquer momento que você está fazendo nada. E a gente fica com esse pensamento, né? Cara, eu queria passar menos tempo com o celular na mão. Só que isso, vocês já repararam que isso não é nada fácil?

Não é fácil simplesmente desconectar, largar as redes sociais. E aí você fica se sentindo mal, duplamente. Primeiro, porque você está passando muito tempo ali. Segundo, porque você não tem a menor autodisciplina, autocontrole, você é dominado por aquele objeto e você não consegue sair dali pelo tempo que você gostaria. O primeiro ponto que eu quero trazer aqui é que esse comportamento, esse excesso de tempo que a gente passa com o celular na mão, não pode ser visto como uma falta de controle individual, minha ou sua.

O excesso de tempo que a gente passa nas redes sociais precisa ser entendido como fenômeno que é coletivo e fabricado. Coletivo porque todos nós aqui compartilhamos dele, de certa forma. Porque todo mundo está nas redes sociais. Vocês já tiveram com alguém a conversa de, ah, eu conheci uma pessoa, aí outra pessoa diz, me mostra uma foto. E aí você diz, não, essa pessoa não tem redes sociais.

Nossa, se essa pessoa não tem redes sociais, ela não existe. Como se espera que a gente passe tempo longe do celular se estar nas redes sociais é existir no mundo em que a gente vive hoje? Todo mundo está ali de alguma forma. Se os seus avós estão no Facebook, os adolescentes estão no Snapchat, a gente não está lá nem cá, está no Instagram reclamando bastante, mas está todo mundo na internet conectado de alguma forma. O que acontece no Twitter vira notícia no Jornal Nacional.

O que viraliza no TikTok está na vitrine das lojas do shopping. Então, a gente vive hoje em mundo em que é praticamente impossível você existir sem estar nas redes sociais, sem olhar para o seu celular de alguma forma. E o excesso de tempo que a gente passa ali é também fabricado por essas plataformas. Porque quanto mais a gente arrasta para cima, mais anúncios passam pela gente. Nessa lógica em que você não paga nada para usar as redes sociais, mas alguém paga essa conta, e paga-se muito bem.

A Meta, por exemplo, que é a dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp, faturou em 2021 mais de 60 bilhões de dólares em anúncios. O que ela está vendendo para os anunciantes é a nossa atenção, é o nosso tempo, é o nosso arrastar para cima. Em 2021 também, os brasileiros passaram, em média, 5 horas e meia no celular por dia. Eu não sei se 5 horas e meia para vocês é muito ou é pouco. Não sei se vocês já pararam para olhar no...

Porque os celulares têm isso, né? Quanto tempo você passa em cada aplicativo, todos os dias. Mas, para a gente ter entendimento coletivo aqui, se você é uma pessoa que dorme oito horas por noite, cinco horas e meia por dia com o celular na mão é terço do tempo que você passa acordado. Ou seja, você passa pelo menos terço da sua vida com o celular na mão. A cada dez desses minutos, sete são nas redes sociais.

Por essas e outras, que a gente tem observado movimento coletivo também de desconectar. Cara, preciso passar menos tempo no celular. E aí cada faz uma coisa diferente. Ah, eu vou deletar esse aplicativo. Eu vou desativar as notificações.

Eu vou restringir o horário. Eu Só estou com o celular até as 10 da noite. Depois, estou sem celular. Higiene do sono, que chama. Super importante.

E tem gente que vai até o limite de passar dias seguidos fora das redes sociais. E chama isso de detox digital. Gosto muito do conceito de detox digital, já tentei, não consegui. E a gente fica pensando, né, cara, como seria bom se eu conseguisse... Como seria bom se a gente conseguisse hábitos diferentes, se a gente conseguisse controlar, de certa forma, o tempo que a gente passa nas telas?

Não me levem a mal, essa conversa é superimportante. Inclusive, uma das grandes questões com que a gente vai lidar nos próximos anos é o equilíbrio entre a presença no mundo real e o tempo no mundo virtual. Mas a questão aqui é, por melhor que você seja em detox digital, por mais autocontrole que você tenha, por mais que você seja ser evoluído na sociedade, nossa, eu não preciso estar no Instagram, não me faz a menor falta. Uma hora ou outra, a gente volta, a gente dá uma olhadinha, a gente baixa de novo o aplicativo, a gente posta uma foto, a gente comenta na foto do amigo, a gente vê aquele TikTok que está todo mundo falando. A gente nunca vai conseguir desconectar 100%.

Desculpem ser a mensageira do apocalipse, agora a gente vai virar, essa conversa vai ficar mais positiva, prometo. É por isso que acredito, e é o que quero trazer para a gente aqui hoje, que a gente precisa tirar pouco o foco dessa conversa de passar menos tempo nas redes sociais e falar pouco sobre o tempo que a gente está passando ali de fato. Porque esse tempo pode ser bem ou mal aproveitado. Para as plataformas, isso não faz a menor diferença. Quanto mais você está ali arrastando para cima, Mais anúncios você está vendo e está tudo bem.

Mas e para o resto de nós? Quando a gente pensa, por exemplo, nas marcas que gastam centenas de milhares de reais em anúncios, nessas plataformas, todo mês, todo ano, E aí elas recebem de volta relatórios de métricas, visualizações, conversões, e seu anúncio foi sucesso. Será que as pessoas lembram mesmo de ter visto aquele anúncio passar? Você lembra o último anúncio que passou por você? No Instagram?

No Twitter? No TikTok? Difícil, né? Para os criadores de conteúdo, cara, eu, Cris Dias, vários de nós que estamos aqui hoje, já são mais de 500 mil pessoas no Brasil que se identificam como criadoras de conteúdo, pessoas que buscam rentabilizar a sua presença nas redes sociais. Será que é justo com essas pessoas, com o tempo delas, com o esforço delas, com o talento delas, que tanto do que elas criam passa despercebido pelas outras pessoas?

E para a gente enquanto sociedade, enquanto coletivo aqui nessa sala, qual é o impacto de tanta informação circulando por aí ao mesmo tempo, só que no modo automático, sem nenhum senso crítico envolvido? Eu acho que a gente tem vivido bastante desse impacto, inclusive, nos últimos anos. E para a gente enquanto indivíduo? Para mim? Para você?

Você dorme melhor ou pior depois de dez minutinhos, que viram quinze, que viram vinte, que viram meia hora arrastando para cima antes de dormir. Você tem mais ou menos concentração nas atividades do dia a dia, depois de passar tanto tempo no celular o tempo inteiro? O conteúdo que chega até você por ali te causa tranquilidade ou te causa ansiedade? E é porque eu imagino quais são essas respostas, porque eu respondo elas para mim mesma também frequentemente, que eu reitero, a gente precisa falar da qualidade do tempo que a gente passa quando está com o celular na mão e não somente da quantidade de tempo que deveria deixar de passar. Essa é uma conversa sobre sair do modo automático, parar de arrastar para cima, enfim, sem prestar atenção no que a gente está vendo, e repensar a nossa relação com as redes sociais e com o conteúdo que chega até a gente por ali.

Se esse é fenômeno coletivo e fabricado, talvez a solução seja pouco mais individual do que a gente gostaria. Porque tempo de qualidade para mim é muito diferente do que é tempo de qualidade para você. Mas tem três palavras que definem esse processo que eu acho que podem ajudar todo mundo de alguma forma. A primeira delas é intenção. Intenção é tão simples quanto o que eu estou indo fazer ali?

Por que eu estou abrindo esse aplicativo? Por que eu estou no perfil dessa pessoa? Por que eu criei uma conta aqui? E aí vocês vão me dizer, Bia, mas é óbvio, eu abro o aplicativo, eu sei o que estou indo fazer. Quantas vezes você pegou o celular para fazer pix ou olhar a previsão do tempo e, quando acordou, estava há 20 minutos no TikTok?

A gente vive várias situações de descontrole. O segredo é pararmos a qualquer desses momentos. 20 minutos, meia hora depois, olhe para o que você está vendo e pergunte como é que vim parar aqui. Às vezes, você vai saber, às vezes, você não vai saber. Mas perguntar é parte do processo.

Porque, se a gente não se questiona nesse sentido, a gente aceita que opera no descontrole, que tem uma força ali que domina a nossa vontade e o nosso tempo. Aí vocês vão me dizer, tem uma força que domina a minha vontade e o meu tempo? O nome dela é algoritmo. Sim, a gente está frequentando redes sociais cada vez mais controladas por algoritmos, que são essas fórmulas que escolhem o que vai aparecer para você a cada momento. Só que elas escolhem com base no seu comportamento interior.

Então, a gente não está 100% fora do controle dessa situação. E é possível e cada vez mais importante que a gente perceba os momentos onde a gente exerce, sim, pouco de controle. O que você segue ou deixa de seguir, aquilo que você interage ou deixa passar reto, aquilo que você joga na palavra, na caixinha de busca, tudo isso ajuda a determinar o conteúdo que vai chegar para você nos dias seguintes e a qualidade do que você vai estar recebendo ali. A segunda palavra é atenção. Atenção é a coisa mais valiosa que a gente tem.

A nossa atenção é disputada o tempo inteiro, por marcas, por influenciadores, por plataformas. Neste momento, está acontecendo uma batalha dificílima pela atenção de cada de vocês, que sou eu versus os celulares. Esse era o momento que eu ia apontar para alguém com o celular na mão. Não tem ninguém com o celular na mão, eu estou emocionada. Vamos continuar.

A nossa atenção é a coisa mais valiosa que a gente tem, mas ela precisa ter valor para a gente primeiro. Porque, senão, a gente está só oferecendo ela para os outros e tem gente ganhando dinheiro às nossas custas. A gente precisa tirar pouco dessa troca também. E parte disso é saber o que vale a sua atenção. Até parei para vocês pensarem pouco.

Talvez essa resposta não seja fácil e nem imediata, mas para para pensar pouco no que vale a sua atenção e também no que não vale a sua atenção. E para para pensar pouco na quantidade de tempo que você passa olhando para coisas que não valem a sua atenção. A gente precisa saber o que vale a nossa atenção e precisa agir nesse sentido. Por isso, a terceira palavra é ação. Infelizmente, não vai dar para a gente ficar sentado esperando que as plataformas acordem dia e digam, ah, eu vou parar de ganhar dinheiro com a atenção dessa pessoa.

Eu só vou mostrar para ela agora conteúdo relevante, conteúdo que faz bem, conteúdo que ela vai querer ver. Isso não vai acontecer do nada. A gente precisa ser cada vez mais intencional e atento para garantir que o tempo que a gente está passando ali tem qualidade, tem valor para a gente E não só para as plataformas. Eu não sei quanto tempo você passa nas redes sociais, eu não estou aqui para te julgar por isso. Está tudo bem.

Está tudo bem você querer se manter informado. Está tudo bem você se sentir bem quando você posta uma foto e uma pessoa dá like ou quando você esbarra num vídeo da menina que fala palavras difíceis e você fica feliz porque ela é fofa. Está tudo bem com isso. A questão aqui é que a gente ficar preso, distraído, passivo, num fluxo de informações infinito não é a mesma coisa que a gente estar bem informado. E a gente estar constantemente buscando essa felicidade artificial gerada pelas redes sociais, não é aproveitar a vida.

Então, se eu falei em plataformas, em atenção, em intenção, eu falei várias palavras aqui, mas falta uma para fechar essa conversa. E essa palavra é presença. Quanto mais presente a gente estiver no mundo real, melhor. Mas a gente precisa estar presente também quando está com o celular na mão. Do contrário, a gente está aceitando que todo o tempo que a gente passa com o celular na mão é tempo desperdiçado.

E eu não sei vocês, mas eu me recuso a perder todo esse tempo de vida. A nossa atenção, Como eu já falei, é uma das coisas mais valiosas que a gente tem. Aquilo em que você coloca atenção determina a realidade à sua volta, define aquilo que você pensa, muda aquilo que você sente. Agora, imagina se cada de nós pegar todo esse tempo que passa arrastando pra cima e fizer desse tempo tempo que vale a sua atenção e a dos outros. É isso que eu quero pra mim e para vocês.

Muito obrigada.

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O Tempo, as Telas e o Valor da Sua Atenção | Beatriz Guarezi | TEDxBlumenau